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Em meio a este momento tão delicado que estamos vivendo, imersos na pandemia do Covid-19, vejo a minha filha brincando alegremente e sem nenhuma preocupação. Mesmo com a sua pouca idade, ela já compreende que não pode sair de casa e nem ir à escolinha, por conta desse ''vírus bobo'' que anda solto por aí. É lógico que a compreensão dela não vai muito além disso e, a bem na verdade, nem é necessário. O trabalho duro de encarar a realidade de frente e buscar soluções para tudo que está acontecendo deve ficar a cargo dos adultos. A grande questão nisso tudo é que as circunstâncias atuais nos convocam para um desafio novo que, certamente, ninguém estava preparado.
Estamos em guerra contra um inimigo invisível e onipresente. Especialmente no Brasil, em que nunca enfrentamos uma situação bélica real, acredito que a experiência atual gera ainda mais tensão. É uma sensação estranha, um sentimento de impotência diante do risco iminente de contaminação. O isolamento social forçado pela pandemia causou silêncio nas ruas e gerou um barulho incômodo dentro de cada um de nós. Existem questões práticas que precisam prioritariamente de solução. Tarefa realizada corajosamente pelas pessoas que estão no ''front'', em hospitais, mercados, na mídia e outros serviços essenciais.
Paralelo a isso, entendo como uma tarefa de todos nós a elaboração simbólica de tudo que está acontecendo. Afinal de contas, o que poderemos deixar aos nossos filhos como sendo a lição dessa guerra? Neste ponto eu percebo uma grande oportunidade de crescimento espiritual, não no sentido religioso, mas no que tange a nossa ''humanização''. Se até então o senso de coletividade parecia estar fora de moda, é justamente a mobilização coletiva que se apresenta como a nossa única chance de vencer o vírus.
Se muitos de nós andava somente preocupado com a própria vida, nos vemos forçados a parar e olhar para o outro, pois a minha a segurança depende da sua e vice-versa. Se a correria interminável do dia a dia nos afastou da nossa ''própria presença'', a calmaria da quarentena plantou um espelho voltado para os nossos olhos. No fim das contas, não há como fugir de tudo que carregamos dentro do coração e da mente.
Ao olhar para o futuro e imaginar como a geração da minha filha irá viver, tenho certeza de que o destino está em nossas mãos agora. O futuro do mundo não são as crianças, somos nós, que temos a responsabilidade de mudar substancialmente a maneira como vivemos e nos relacionamos.
O escritor brasileiro Rubem Alves contou uma história, certa vez, de que as ostras criam pérolas preciosas para atacar a dor, causada pelos grãos de areia que adentram seu casulo. Se isso é apenas uma metáfora eu não sei, mas que possa nos servir de inspiração. Que possamos criar uma riqueza de afetividade, acolhimento e solidariedade. Palavras que precisam recuperar o valor. Esta é, sem dúvidas, a melhor herança que poderemos deixar aos nossos filhos. Portando desses atributos humanos, que outrora foram esquecidos, eles estarão mais seguros e fortes diante de qualquer batalha que a vida possa apresentar.
Eu sou otimista. Acredito que vamos nos tornar pessoas melhores depois que tudo isso passar.